segunda-feira, 22 de julho de 2013

Jornal O Globo faz cobertura tendenciosa a favor do governo e tenta criminalizar as manifestações

O Brasil reuniu manifestantes em mais de 100 cidades que tiveram protestos expressivos com milhares e milhares de pessoas. Manifestações pacíficas, ordeiras e sem organização partidária por trás querendo se aproveitar da boa chama do povo na rua. Foram manifestações encantadoras, transformadoras e absolutamente positivas. Pois bem, aí eu pego o jornal O Globo e vejo na primeira página a manchete: "Sem controle. Em noite de conflitos, depredações e saques, Itamaraty e prefeitura do Rio são atacados". O Globo mostra o detalhe periférico do confronto envolvendo uma minoria de vândalos. É o detalhe do cara quebrando sinal de trânsito, saqueando loja, colocando fogo em carro etc. Uma ideia de que tudo que aconteceu se resumiu a isto que eles estão mostrando.


Isso é uma distorção, uma manipulação dos fatos. Querer colocar o detalhe do confronto como uma manchete. Querer colocar a ação de uma minoria de vândalos como o fato sem controle é um absurdo. "Sem controle" o que O Globo? O que está "Sem controle"? O desejo de fazer ou cobrar uma mudança de um Estado que você mais apoia do que critica? De um sistema político que você mais apoia do que critica? 

A essência da relação da grande imprensa com o sistema político brasileiro é de parceria, de cumplicidade e de mútua conivência. É até uma relação de razoável proteção e blindagem. Quando a coisa começa a ferver, na mesma hora tem o espera aí e tal. Não é bem assim e tal. Entendeu? Acho que a tentativa de criminalizar o que está acontecendo é muito presente na forma como se cobre o que está acontecendo.

Na soma do caldeirão que sai de controle, você tem: Os marginais que não tem nada a ver com a manifestação, mas estão lá sempre. O radical que vai para o confronto por opção política, porque ele quer invadir o prédio, ele quer invadir o palácio. O radical que vandaliza por vandalizar e que se aproxima mais do criminoso do que o cara que tem uma ideologia. É o cara que quebra uma placa, às vezes, não é nem um criminoso, mas acha que isso é um ato político.

O radical também é um agente político, você pode não gostar dele, você pode combatê-lo politicamente, pode até usar a lei pra tentar enfrentá-lo. Mas ele é um ente do jogo e do espírito político. Igual ao conservador, igual a direita e igual a esquerda. Enfim, igual em tudo. 

Para não dizer que foi incompetência profissional, vou admitir que foi por falta de competência e de olhos para enxergar o que aconteceu. Competência e olhos que não faltaram ao jornal Extra na sua edição impecável de primeira página, que veio com a seguinte manchete: "Não foi passageiro. Um dia depois de governos no país inteiro baixarem o valor das passagens, manifestantes dão demonstração de força em cem cidades e acenam que os protestos com novas reivindicações devem prosseguir". Perfeito, sensacional, uma primeira página maravilhosa.


O Extra, feito pelo mesmo grupo editorial e empresarial, estampou na primeira página o verdadeiro sentimento das manifestações com texto e imagem perfeitos. Ele publicou corretamente o que foi a notícia. O fato desta massa na rua não ter uma lista de reivindicações com princípio, meio e fim não significa que o seu grito não seja decodificável. Que seu clamor não seja compreensível e traduzível.

Ninguém está contra a democracia. Ninguém está atacando a ideia das instituições existirem. Não é por aí, não adianta a imprensa passar uma imagem esquizofrênica dos fatos com o intuito de proteger interesses promíscuos e escusos. Não é por aí. A tentativa de criminalizar o que está acontecendo é muito presente na forma como se cobre o que está acontecendo. Os jornais precisam ter mais cuidado pela forma como estão lidando com isso.